“Caráter não tem classe social”, diz moradora que emprestou R$ 7 mil para catador e recebeu o dinheiro de volta

Texto de Paulo Germano – GaúchaZH

Lauro Alves e Estela Vizcaychipi / Agência RBS e Arquivo Pessoal

Resistimos num país em que o Estado, em todos os níveis, dificilmente cumpre com seu papel, nem mesmo no grau mínimo da máxima responsabilidade que é garantida pela Constituição e pelas leis. E a ausência de um Estado atuante e eficaz faz muita falta. E não é à toa que vivemos essa crise moral, ética e fiscal atual, em que nada funciona ou quando funciona, nunca é em plena vitalidade é sempre remediada.

Entretanto, podemos destacar a história do Paulo Roberto que abandonou a carroça e comprou uma Kombi para circular em Porto Alegre. O mais interessante foi que sete meses depois, a dívida estava quitada. Num país onde a credibilidade é rotulada pela corrupção, histórias de gente minúsculas geram atitudes maiúsculas.

Os primeiros R$ 7 mil, o catador de lixo ganhou em uma vaquinha virtual.  Cansado de arrastar uma carroça pelo centro de Porto Alegre, Paulo Roberto Carvalho, de 56 anos, saiu a distribuir um simpático bilhete nas caixas de correspondência da cidade, pedindo ajuda aos moradores para comprar uma Kombi.

Deu certo, mas a perua custava o dobro. Segundo publicação do site GaúchaZH, os outros R$ 7 mil foram emprestados pela corretora de imóveis Estela Vizcaychipi – sendo que ela e o marido já tinham doado R$ 2 mil na vaquinha online. Paulo Roberto, então, assumiu um compromisso: devolveria o dinheiro em sete parcelas de R$ 1 mil ao casal que deram o crédito de boa fé.

– Ele disse que pagaria sempre no dia 2. Mas, bem antes disso, lá pelo dia 26, 27, ele já batia na minha casa com um bolo de notas de R$ 50 – relembra Estela, que na semana passada recebeu a última prestação.

Paulo Roberto diz que agora, com tudo acertado, vai finalmente investir na sua casa, na Vila dos Papeleiros, onde mora com a esposa e dois filhos de criação.

– Com essas chuvaradas, vive entrando água lá dentro, mas, se Deus quiser, agora vou juntar um dinheirinho e deixar tudo bonito – planeja ele.

Com a Kombi, além de fazer fretes, Paulo é acionado para levar móveis, colchões, roupas, eletrodomésticos, caliça, entulho, tudo. No caso do lixo, ele se encarrega de descartar no lugar certo. No caso do resto, alguma coisa ele vende, outra aproveita em casa, oferece para um brique, doa para quem precisa.

Estela conta que, quando emprestou os R$ 7 mil a Paulo Roberto, alguns conhecidos riram. Disseram que ela havia sido ingênua, que seria passada para trás, perderia o dinheiro, levaria um calote.

– Embora eu seja corretora de imóveis, nem pensei em fazer um contrato. Sabia que ele pagaria. Aliás, o Paulo mostra que a gente não pode ter preconceito: caráter e honestidade não têm classe social – ensina Estela.