“Como decidi em quem votarei para Presidente” – Por Luciano Pires

Este é o maior texto que já escrevi aqui no Portal. Mas o momento merece. Se você não tem paciência pra ler, fique tranquilo. Este texto não é pra você.

URNA BANDEIRA BRASIL

Meu post declarando voto em Jair Bolsonaro, como era de se esperar, viralizou. Tem gente dizendo que o fiz só para ter audiência, o que é uma bobagem. Quem me segue – especialmente quem frequenta o grupo do Telegram do Café Brasil Premium – conhece os comentários que faço em privado desde 2015. É a essa turma que eu devo satisfações, coerência e explicações.

O post que fiz no Facebook não foi para fazer militância – e ninguém verá uma linha pedindo voto para Bolsonaro nesta página. O fiz para dar uma satisfação às pessoas que me seguem e que querem saber minha opinião. Minha opinião, entendeu? Só minha, que serve para mim e mais ninguém.

Eu sabia que teria reações extremadas diante desse Fla-Flu em que se transformou o Brasil, mas acabei tendo uma surpresa agradável. A página, que estava com crescimento estagnado há 18 meses, ganhou quase 3 mil novos curtidores em três dias. E cerca de 80% dos comentários foram positivos. Entre os 20% negativos, havia de tudo, de seguidores perplexos a histéricos, com muitos questionamentos. O principal deles: “como é que um cara ponderado como o Luciano vai votar num (machista, misógino, fascista, racista, nazista, homofóbico, extremista… continue…)”.

Quem veio com grosseria, sarcasmo e provocação infantil eu deixei para lá. Mas vários vieram com uma curiosidade genuína. É para esses que dedico esta explicação.

Senta que lá vem textão.

OS JOGADORES

CIRO GOMES
Ciro é, de longe, o candidato viável mais perigoso para o Brasil. Eu disse “viável” pois existem os inviáveis folclóricos tipo Boulos e o tal cabo lá. A retórica de Ciro é imbatível, ele ganha qualquer debate, mesmo que a plateia não compreenda 90% do que ele diz. Tenho medo dele, de sua disposição de se alinhar com qualquer partido disponível, de sua simpatia por ideias socialistas, de sua metralhadora giratória que chuta números pra todo lado. Ciro mente descaradamente. Temo sua teimosia em defender o indefensável (como a democracia na Venezuela), de sua violência e instabilidade emocional. Ciro é perigosíssimo, pois está convicto que tem resposta pra tudo. Dê poder a um maluco desses e pronto… Por essa convicção, considero Ciro muito mais perigoso que qualquer outro. Não entrarei em debates sobre ele. Quem tiver simpatia por ele, que vote no cabra. Eu não votarei.

FERNANDO HADDAD
Deixa eu usar um meme: O PT ganhou em 2002, 2004, 2008 e 2014. E agora quer ganhar em 2018 para consertar as cagadas dos governos anteriores.
Haddad é Lula. Chega.

GERALDO ALCKMIN
Alckmin é quem poderia se dar bem com a polarização Esquerda x Bolsonaro. O problema é que ele é o candidato do futuro do pretérito: poderia, ia, ia… Ele tem resultados para apresentar, é de longe o mais experiente candidato quando se fala da atividade executiva, mas não assume uma posição firme e, quando tenta fazê-lo, soa mais falso que nota de 3 reais. E representa um partido que é um saco de gatos com um Aécio Neves dentro. Ele se aliou a boa parte da escória política nacional em busca de tempo de televisão, o que é garantia de que, no fundo, nada vai mudar. E sua campanha é desastrosa em certos momentos apelando para a desonestidade intelectual. Se eleito, teríamos um zelador mais caprichoso e eficiente, mas a estrutura continuaria podre. O maior adversário de Geraldo Alckmin é ele mesmo, sua monotonia na atitude, sua falta de firmeza. Ele é nulo de carisma, algo que sobra em Ciro e em Bolsonaro. Conheço pessoas que o conhecem na intimidade e que me garantem que é um sujeito honesto e confiável. Mas isso não ganha eleição. Geraldo ganharia. Ia Ia Ia…

MARINA SILVA
Marina Silva é o açúcar mascavo. É politicamente correta, mas não adoça nem a pau. Arrastará consigo alguns milhões de votos de sonháticos, verdes, vegetarianos e outras tribos naturalistas. Entra na disputa apenas como fator de negociação para o segundo turno, quando certamente subirá no muro novamente e dirá que cada um de seus eleitores pode votar em quem quiser. E tem o PT tatuado no coração. Isso é Marina.

MEIRELLES
É uma opção interessante, que talvez pelo pragmatismo pudesse ajudar a colocar o país nos trilhos a caminho de uma transição. Mas é um burocrata sem carisma, com papo técnico e inacessível. Não tem graça e quando tenta ter parece um picolé de alface. Não tem luz. E gosta de bancos. Talvez desse um ótimo primeiro ministro de transição. Mas como presidente, neste momento, não dá.

OS DEMAIS
Dos demais tradicionais, Álvaro Dias mereceria alguma atenção, mas é diabo velho, político regional, cheio de blablabla e não acredito que tenha culhão para implementar qualquer mudança significativa. Já está desidratado e se ganhasse, passaria quatro anos negociando, sem resultados.

Do João Amoêdo eu falo mais adiante.

COMO ENTENDO JAIR BOLSONARO

Jair entrou na política quase 30 anos atrás, num Congresso em final de regime militar, como representante dos… Militares. Se tivesse se apresentado como representante do Capeta, teria tido vida mais fácil. Briguento, casca grossa, com conhecimento político limitado, passou três décadas no “baixo clero”, onde estão os políticos de pouca expressão, cujos projetos dificilmente passam para instâncias superiores. Na ala dos Tiriricas.

O rótulo “militar” funcionou como uma espécie de lepra nos filmes bíblicos dos anos 50 e 60: ninguém queria chegar perto. E Bolsonaro foi, durante 3 décadas, ignorado, humilhado e caçoado, respondendo aos ataques da forma como podia: na grossura. Ele jamais teve alcance intelectual para dominar as várias linhas de pensamento e ideologias, nem para desenvolver argumentação sofisticada, tanto que se aliou a todo tipo de bancada e partido. Um personagem à procura de uma sigla. Foi inclusive base de apoio dos governos de esquerda, jamais ouvido, nunca afeto a formar as panelinhas, nunca disposto a votar pela cabeça dos outros. Um independente incômodo. E ainda por cima, defendendo a polícia e os militares.

Seu arsenal teórico é o da caserna: disciplina e defesa de valores morais básicos. Como é de se esperar de um militar, é um nacionalista, um nacional-desenvolvimentista que provavelmente responderá com voluntarismo e ufanismo a desafios técnicos. Na falta de argumentos, solta um palavrão. Está muito longe de ser o candidato ideal, mas não se pode exigir mais dele. Porém, com todos os defeitos, considero-o mais adequado que o presidiário de Curitiba ou Dilma eram quando assumiram a Presidência.

Vem mensalão, petrolão, impeachment, a corrupção explícita desnudando toda a podridão dos anjos salvadores e trazendo o combate à corrupção para ordem do dia. Bolsonaro tornou-se figura nacionalmente conhecida quando passou a enfrentar as bancadas desarmamentistas e LGBT+. E se não fez muito, ao menos impediu que muito fosse feito. Os histéricos ajudaram a projetá-lo para o cenário nacional. De reacionário sem importância passou a ser visto por muitos como o único que batalhava contra as maluquices que os “progreçistas” queriam implementar por baixo dos panos.

Foi a esquerda que colocou Bolsonaro sob os holofotes.

Não vou entrar aqui em sua defesa, não é esse o objetivo. O que interessa é compreender o básico: um indivíduo oriundo do ambiente militar, com um histórico de bocudo, personalidade mercurial (como diria Itamar Franco), que explode ao ser provocado, limitado arsenal ideológico/intelectual (note, eu não disse limitada capacidade intelectual, mas arsenal intelectual), um cara independente, que não leva desaforo pra casa e que ganha de presente uma Maria do Rosário e um Jean Wyllys, com quem protagoniza alguns dos momentos mais midiáticos da política brasileira dos últimos 30 anos. De novo: foi a loucura de Wyllys e Cia que projetou Bolsonaro. Nos enfrentamentos, construiu a imagem do sujeito firme que defende a família, Deus e a propriedade. O homem da disciplina. O conservador no mau sentido da palavra, o ogro da Direita, aliás, Extrema-Direita, já que Direita só pode ser Extrema. E fez a festa dos caricaturistas da moral.

Como representante do baixo clero, usufruiu de tudo aquilo que é cultura do baixo clero: verbas de gabinete, emprego para amigos, auxílio-aluguel, aquela nojeira da qual se beneficiam 99% dos políticos brasileiros. Inclusive badalados ex-presidentes.

A seu favor, o fato de jamais ter se envolvido em qualquer esquema de corrupção, pelo contrário, sendo usado como exemplo de parlamentar que nunca foi atrás de propinas. É um dos poucos políticos nos quais o rótulo “corrupto” não cola. E isso já é uma vantagem.

Nos embates com os tinhosos histéricos da esquerda, gerou incontáveis momentos que hoje são memes, usando palavreado chulo e devolvendo as ameaças na mesma moeda. Aliás, tornando-se mestre na retórica que atinge a boca do estômago de seus adversários. Ele quer provocá-los. De que outra forma se pode interpretar, na votação do impeachment de Dilma, ele ultrajar a todos com uma homenagem ao Coronel Brilhante Ustra? Sim, Ustra é do time dele, mas aquele gesto, mais que admiração genuína, foi pura provocação, resposta a quem anteriormente havia dedicado o voto a Carlos Marighela, a melhor forma de ofender a seus detratores, mesmo sabendo do preço a pagar.

A quase totalidade dos vídeos que mostram as já folclóricas explosões de Bolsonaro, se você não tem a desonestidade alckminiana de editá-los, tirando-os do contexto, deixam claro que ele sempre reagiu explosivamente a uma provocação pesada. A deputada Maria do Rosário o chamou de estuprador, por exemplo.
Basta procurar os vídeos, existem aos montes.

O fato é que Bolsonaro gerou farto material para que os profissionais da comunicação e os caricaturistas da moral nele grudassem os rótulos de intolerante que o marcarão para sempre. Aliás, acho que cabe aqui muito bem um comentário do leitor Jefferson Artes no post que fiz revelando meu voto, no Facebook. Este comentário teve mais de 7 mil curtidas:

“Cheguei a essa mesma conclusão quando resolvi assistir aos vídeos completos das entrevistas dele nessas eleições. Fui com a cara. Sou gay e voto nele! Ontem me senti na obrigação moral de declarar meu voto, por causa das mentiras e ataques e pelo fato da esquerda se apropriar da voz de todos os gays dizendo que representa eles. Fui bombardeado, mas fiz o que meu coração mandou e me sinto em paz!”

Notou o “resolvi assistir aos vídeos completos das entrevistas”? Jefferson não foi pela narrativa de terceiros, foi à fonte, ouvir o que Bolsonaro tem a dizer, por suas próprias palavras. E teve uma percepção diferente. Diante da fonte primária, rótulos caíram.

Com as revelações da Lava Jato, criou-se o ambiente perfeito para que aquela semente do defensor da lei, da ordem e dos valores morais, germinasse. E então Bolsonaro se solidificou como “o político não corrupto, portanto contrário a toda a sujeirada que está aí”. E quando a oportunidade chegou, com toda a classe política reduzida a um lamaçal de ladrões, ele se apresentou:

– Ói eu aqui.

Nesse momento, Bolsonaro deixou de ser um político para ser um símbolo. E assim se tornou exatamente igual àquele presidiário de Curitiba, na representação de um ideal de salvador, o cara que vai brecar a loucura dos que nos trouxeram para o buraco. Para sua sorte, levantou contra si toda uma elite da imprensa e das artes, também histérica e intelectualmente desonesta, que ajudou a transformá-lo em vítima. Ninguém apanhou e apanha tanto quanto Bolsonaro. Moral, intelectual e até fisicamente. E isso não passou despercebido ao povo.

“Pô, aquele sujeito que fala as coisas que a gente entende, que defende as bandeiras que nós defendemos, que quer colocar ordem e disciplina nesta zona, sendo atacado por um bando de bacanas e de políticos corruptos? Tem alguma coisa errada… Deixa eu ouvi-lo melhor.”

Como o presidiário de Curitiba, o símbolo Bolsonaro ganhou uma armadura de teflon, na qual nada gruda. Podem bater à vontade: insignificante, irrelevante, burro, ignorante, machista, nazista, fascista, misógino, desonesto… escolha o rótulo. Não cola.

Isso é Bolsonaro. Nada além disso. Um ogro tornado maior, mais feio e mais perigoso muito mais pelas narrativas que por suas ações práticas.E pronto para batalhar não pelos votos racionais, mas pela emoção das pessoas.

MINHA OPÇÃO DE VOTO

Em 2014 fomos obrigados a escolher entre Aécio e Dilma, o que já apontava a miséria política em que estávamos mergulhados. E muita gente decidiu reagir, criando alternativas. Uma delas foi o Partido NOVO, que passei a acompanhar com interesse. E não foi difícil tomar a decisão: em 2018, no primeiro turno, eu votaria em João Amoêdo. Um voto pela renovação, numa chapa quase 100% Novo.

Gosto das ideias que Amoêdo defende, do foco nas questões da economia que são neste momento as de impacto imediato para reduzir a crise, reconheço que é um neófito, que o partido ainda tem de ganhar conjunto. É como aquela seleção brasileira que entra em campo na primeira convocação. Não tem padrão de jogo, cada um vai tentar fazer o que sabe, o técnico ainda não mostrou a que veio, zagueiro fará gol contra por não se comunicar com o goleiro, etc, etc, etc. Mas é o candidato de ideias liberais possíveis.

Deixa eu reforçar aqui: IDEIAS LIBERAIS POSSÍVEIS. Tá cheio de maluco por aí gritando ideias liberais impossíveis.

O Novo tem um projeto com começo, meio e fim, tem o pé no chão e me atrai. Tem critério para escolher os candidatos que o representam, está anos luz à frente dos demais partidos da velha política. É o ideal? Não. É o possível.

Decidi ficar com Amoêdo no primeiro turno para que o Novo saísse da eleição com musculatura e representatividade.

Mas…

Essa minha opção dependeria de uma avaliação na reta final. Se houvesse um perigo de termos um segundo turno com dois esquerdistas, ou chances reais de vitória de um esquerdista, eu votaria em Jair Bolsonaro ainda no primeiro turno.

Amoêdo seria meu candidato natural, eu votaria nele em qualquer outra oportunidade, mas o Brasil precisa neste momento de muito mais que as receitas liberais para a economia, que o racionalismo de um administrador, que a visão de um planejador. Precisa de um enfrentamento, de briga suja, de tiro, porrada e bomba.

Metafóricos, é claro.

Amoêdo é o melhor peso-leve que temos, com nível pra ser campeão do mundo, e tem tudo pra chegar lá. Mas hoje a luta é na categoria dos pesados.

Detalhe curioso: eu contrataria de olhos fechados João Amoedo para gerenciar minha empresa. Bolsonaro, jamais. A esquerda e a imprensa é que me fariam votar nele.

Entendeu? Minha escolha por Bolsonaro nada tem a ver com sua capacidade como estadista, administrador ou apaziguador.

Para combater Orcs, só outro Orc.

O CENÁRIO

A articulação das forças de esquerda se mostrou, como sempre, muito eficiente e chegamos na situação atual: Haddad, um boneco de ventríloquo, tem chances reais de chegar a um segundo turno, com a voz de seu puppet master, preso em Curitiba. Em chegando lá, todas as forças da esquerda, com Ciro, Alckmin, Marina, Boulos, se unirão naquela obediência gramsciniana e formarão um rolo compressor que tem reais possibilidades de levar a presidência. E nem estou levantando a possibilidade de fraude eleitoral.

O Brasil não merece mais quatro anos dirigido pelos mesmos de sempre, agora com ódio. Aliás, sendo dirigido de dentro da cadeia, como uma organização criminosa.

Avaliei as pesquisas existentes e outras que medem os climas e, embora tenha convicção de que Jair Bolsonaro tem muito mais intenções de votos do que aquilo que é mostrado na mídia (lembrem-se do Trump!), concluí que preciso votar para que a eleição seja definida em primeiro turno. E Bolsonaro é o ogro que tem condições de quebrar a hegemonia petista/esquerdista, lutando na mesma categoria. Os outros representam a continuidade ou a acomodação, jamais o rompimento.

Tentei de todas as formas fazer um LíderCast com Jair Bolsonaro, como fiz com Amoêdo. Olhar o bicho nos olhos, naquele esquema de intimidade com que faço os bate-papos, teria sido fundamental para confirmar impressões e revelar o que não se vê de longe… mas não consegui. Cheguei até sua assessoria de várias formas, sem sucesso.

A vitória de Bolsonaro – mesmo que simplesmente para trocar uma quadrilha por outra – pode nos dar quatro anos de respiro para preparar uma nova candidatura em 2022, desta vez forte e sedimentada como uma terceira via, que pode ser o Novo – agora com congressistas suficientes – ou outra força que há de surgir da fratura que essas eleições certamente criarão no país.

Ganhando, Bolsonaro terá quatro anos infernais. Como Temer, gastará grande parte do tempo e energia evitando ser derrubado. E terá, debaixo de seu próprio teto, milhares de militantes prontos para puxar seu tapete. O trabalho de limpeza vai demandar muito esforço e energia, mas talvez ele consiga fazer o principal: um choque, limpando as estruturas, quebrando narrativas, revelando as falcatruas e preparando o terreno. E tomando tiro, porrada e bomba. E nem sei se metafóricos, pois a facada foi real…

Bolsonaro não precisará ser incompetente, grosso, desonesto, burro ou simplesmente ignorante para que seu governo seja diariamente contestado e que um escândalo o aguarde a cada esquina. E ele fará questão de botar lenha na fogueira, com a mesma língua solta e a capacidade infinita de irritar os adversários. Essa é sua natureza…

O que eu acho que acontecerá? Bolsonaro leva no primeiro turno, deixando a cara daquela elite perseguidora no chão. Capitaneada pelos institutos de pesquisa. Vai ser bom para o Brasil? Não sei. Mas só o fato de sua campanha ter ajudado a revelar como funciona o mecanismo da imprensa, as artimanhas da esquerda, do “centrão” e até mesmo da direita carnívora, os processos dos marqueteiros para enganar e torcer a verdade, além de explicitar o funcionamento das “fake news”, já terá servido para amadurecer politicamente toda uma geração.

Estamos saindo politicamente mais maduros do processo eleitoral deste ano. Inclusive para um novo impeachment, se formos traídos.

Não acredito em golpe militar ou coisa parecida, brasileiro não tem culhão para tanto. O que acredito é na quebra da estrutura que foi solidificada nos últimos trinta anos. E que descambou em soberba.

Quero usar Bolsonaro como um anteparo entre a esquerda e um candidato verdadeiramente liberal em 2022.

A ESPERANÇA

Minha esperança é de que, consciente de suas limitações, Jair Bolsonaro cerque-se de gente competente.

– Pô, Luciano, esperança? Que ingenuidade…

Pois é. A chegada de Paulo Guedes pesou demais na minha decisão, assim como o General Mourão e outros nomes aventados. Espero que Bolsonaro mostre que é real sua disposição de ouvir quem sabe mais e aprender, mostre-se capaz de assimilar as várias vozes discordantes, sem jamais perder de vista a razão pela qual foi eleito.

O Brasil não merece, talvez não suporte, mais uma traição.

A PREOCUPAÇÃO

O que me preocupa com Bolsonaro é a turma em volta dele. Tudo bem, é campanha eleitoral, tem capanga e papagaio de pirata pra todo lado, gente esquisita, muitos extremistas tentando uma boquinha, e é aqui que torço para que o lado militar prevaleça: escreveu, não leu, o pau comeu. Especialmente dentro do governo.

Bolsonaro vai ter de dar atenção muito especial para a escolha de seu time. Me preocupo que a família tome conta e transforme a presidência num reino, e tenhamos de lidar com “os filhos de Saddan”. Não dá. Mas tenho esperança que a consciência de que chegou lá, dê a Bolsonaro a grandeza de entender que sua obra será de terraplenagem. Só isso. Arrancar toco, aplainar o terreno, matar ervas daninhas, reforçar as barreiras de contenção e começar algumas fundações. Só a partir de 2022 poderemos pensar em construir uma casa nova.

Foi assim que cheguei a meu voto. Meu candidato, se não surgir um nome mais adequado, é o Amoêdo para 2022. E esse meu processo não levou só o tempo para escrever este textão, não. São pelo menos dois anos de observação, conversas e conclusões. Não sei se estou certo, não fui pela emoção, não estou entrando na modinha, mas jogando com as variáveis, com o possível, e tirando minhas conclusões. Meu voto é estratégico, para aquilo que o momento exige.

Se eu estiver errado, se Bolsonaro não ganhar, se o pior acontecer, a vida continua, vou ter de pagar minhas contas igual e continuarei tomando meu chopinho com meus amigos petistas, alckmistas, ciristas, marineiros ou seja lá em quem eles votem.

Você que é de esquerda e está espumando aí, bote uma coisa na cabeça: foi a sua turma que me fez voltar em Bolsonaro.

E você que está louco pra comentar com um “e se?”. Bem, “e se” por “e se”, sou mais o meu.

Ah, e pra não perder a tradição: que Deus nos ajude.

Veja também:
=> Por que votarei nulo – Alexandre Schwartsman
=> O que tive que pensar para decidir meu voto – Gilberto Dimenstein